A Pesquisa Pulso Empresa referente à quinzena de 15 a 30 de junho, publicada pelo IBGE dia 16 de julho e com divulgação feita nesta página[i], apontou que 522,7 mil empresas das 1,3 milhão que estavam fechadas temporariamente (39,4%), tiveram suas atividades encerradas em definitivo, na primeira quinzena de junho[ii]. Dessas, 518,4 mil (99,2%) eram de pequeno porte (até 49 empregados).
O setor Serviços e o Comércio, como ilustrado no gráfico acima, foram aqueles nos quais mais empresas fecharam por conta dos efeitos da pandemia (respectivamente, 49,5% e 36,7% de suas empresas fecharam no período analisado). Levando em consideração que esses setores juntos representam cerca de 70% do PIB brasileiro, as perdas podem ser substanciais.
Em parte, tal situação reflete aquilo apontado por Oliveira, Paula e Nóbrega (2020). sobre a ineficiência da política de incentivo ao crédito em resposta aos problemas econômicos criados pela covid-19, do Governo Federal[iii].
O aumento da oferta de crédito, segundo os autores citados, foi estimulado pelo Governo Federal em um momento de aumento das incertezas por parte dos ofertantes do mesmo. Assim, o sistema bancário, ofertante de crédito, não flexibilizou as exigências para as concessões de empréstimos, e, consequentemente, o volume de capital dos empréstimos concedidos foi tardio e insuficiente para socorrer boa parte das empresas.
Por outro lado, pesquisa elaborada pela SEBRAE/FGV[i], conclui que a oferta creditícia é deficiente porque os critérios rigorosos para o repasse não foram revistos – a exemplo de negação em caso de acúmulo de dívidas anteriores ou de inexistência de garantias –, bem como pelos protocolos serem demorados e apresentarem taxas que desconsideram o cenário atípico atual. Ademais, a pesquisa ainda acrescenta que há uma lentidão para as respostas dos bancos e nem sempre as causas para a recusa são explicitadas.
Um terceiro motivo para o fechamento das empresas pode ser depreendido do fato de que o aporte governamental disponibilizado para o auxílio das empresas até então foi de R$ 25,70 bilhões[ii], sendo que Gonzalez et al.[iii] defendem um montante na ordem de R$ 472 bilhões para suprir a demanda de capital de giro e compensar as perdas de faturamento, com o setor do Comércio Varejista concentrando a maior parte (36,7%) desse valor.
Não só a insuficiência, mas oatraso do governo para a injeção de crédito fez com que empresas em situações razoáveis, detentoras de problemas de receitas passíveis de serem solucionados com liquidez, não se recuperassem e fechassem suas portas[iv]. O próprio Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), por exemplo, demorou cerca de 62 dias para entrar em vigor após a aprovação no Congresso, além de depender da articulação política para quaisquer novos repasses[v].
Finalmente, até agora, segundo os dados da Pesquisa Pulso do IBGE supracitada, o adiamento dos encargos federais, estaduais e municipais do Simples Nacional nas MPEs beneficiaram 1,2 milhão das empresas em funcionamento (44,5%), o que representa uma parcela expressiva, embora aquém do que o cenário atual requisita.
Canal utilizado para a assistência governamental durante a pandemia futuras mudanças na tributação dependerão da articulação política. No último dia 21, porém, o governo entregou a primeira proposta de Reforma Tributária, numa forma que pode prejudicar esse pequeno avanço e provocar a oneração de alguns setores já bastante afetados pela crise, sobretudo o de Serviços, via unificação do PIS e Cofins[vi].
De modo geral, ainda é incerto se há margem de manobra política para a posterior aprovação de medidas desse cunho, mas pressupõe-se que aumentos tributários agora somente ampliariam os fechamentos observados.
Dado que as micro e pequenas e empresas (MPE) são responsáveis por 30% do PIB e mais da metade dos empregos formais, o encerramento de unidades das suas atividades terão desdobramentos severos.
Diante da incerteza no que toca à retomada das atividades econômicas, é imperativo que haja ampliação das ações do governo para tentar minimizar as perdas na economia, a fim de desestimular outras rodadas de fechamento de empresas nos próximos meses, especialmente em setores de peso como o de Serviços, pois as movimentações nesse sentido por parte do governo ainda não são satisfatórias.
Na ausência do Estado para agir como emprestador em última instância, o destino de uma fração das MPE parece ser a bancarrota.
É provável que as próximas pesquisas do IBGE sobre o desempenho empresarial apontem se caminhos semelhantes ao que acabou de ser discutido estão sendo perseguidos e dando resultados.
[i] Crédito no Brasil para MPEs em Tempo de COVID-19. FGV
Projetos, SEBRAE/FGV, 2020. Disponível em:
[ii] Dados fornecidos pelo “Emprestômetro”, ferramenta do
governo para monitorar as transferências creditícias. Disponível em:
[iii] GONZALEZ, Lauro; BARREIRA, Bruno; RIDOLFO, Arthur. Crédito para os pequenos em tempos de
pandemia. FGV, 2020. Disponível em:
[iv] Para maiores informações, ver “Pronampe e outros programas
cobrem só 6% do crédito que pequenas empresas precisam em 2020”. Infomoney,
13/07/2020, às 6h. Disponível em:
[v] Idem.
[vi] Governo entrega Reforma Tributária pela metade ao
Congresso. Veja, 21/07/2020, às 16h48. Disponível em:
[i] Disponível em
[ii] Pandemia foi responsável pelo fechamento de 4 em cada 10
empresas com atividades encerradas. Agência de Notícias, IBGE, 16/07/2020, às
9h. Disponível em:
[iii] OLIVEIRA, Gregório Porto de; PAULA, Jorge Alexandre de
Jesus de; NÓBREGA, Wagner. Restrições à
eficácia das medidas do Bacen no combate ao COVID-19. Orçamento e Finanças
Públicas, Café com Dados, 18/05/2020. Disponível em