Os evangélicos que recorreram ao STF em defesa da liberdade de realizarem cultos em seus templos, sem interferência das autoridades administrativas, em tempo de pandemia, devem ter aprendido que o templo é prescindível para o exercício da fé, que o culto pode ocorrer e ser expressão de adoração a Deus em espírito e em verdade, dissociado de um templo feito por mãos humanas, dispensando inclusive a demonstração pública do ato e a aglomeração ou junção de pessoas.
Pois bem, a lição que fica é que a religiosidade evangélica está se evidenciando vazia de significado e consistência, deixando de focar na riqueza do homem interior, no eu individual, e buscando o reconhecimento social e coletivo. A lição que fica é que a fé evangélica, parece, não suportaria viver uma diáspora, não subsistiria se seus seguidores, acostumados a se expressarem em cultos realizados em suntuosos templos, fossem obrigados a se reunirem em catacumbas e em secreto. Os evangélicos brasileiros ainda não aprenderam que a fé exige renúncia, dedicação individual e sacrifício em favor dos que precisam de salvação. E não só em favor dos que precisam de salvação da alma, mas também e notadamente de salvação da vida, salvação do corpo que se vulnerabiliza em face da terrível peste que assola o Brasil e o mundo. A lição que fica é que a preocupação em barrar as decisões dos Governadores e Prefeitos que restringem as celebrações religiosas, delimitando quantidade de fiéis e horários de suas realizações, foi, por sua natureza, mais um ato político negacionista e não tanto uma demonstração de interesse cristão no outro, mesmo que ali dissessem ser essencial o serviço prestado pelas igrejas.