* Antônio Gonçalves

“E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam.

Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.

Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto,

Para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente”. Mateus 6:16-18

Neste momento de crise mundial com a propagação do Coronavírus, o Brasil também sofre as consequências da propagação em seu território, cabendo às autoridades constituídas tomar decisões políticas para resolução dessa pandemia de proporções jamais vista.

Ocorre que o próprio governo federal, através do mandatário maior da nação, não está se entendendo com a equipe técnica do Ministério da Saúde escolhida por ele para implementar as medidas públicas de seu governo, e agora, as necessárias para contenção da pandemia, nem com os governadores dos estados que seguem as orientações do ministro da saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Na semana passada foram divulgadas pesquisas de opinião pública que mostraram a queda de confiança na pessoa do presidente e aumento substancial de credibilidade nas autoridades que estão defendendo o contrário dele. Lamentavelmente nem essa constatação serviu para que o mandatário pudesse reavaliar suas posições sobre o problema, o que demonstra que não tem nenhuma preocupação com a saúde dos brasileiros. Será possível que somente ele esteja correto, mesmo sem ser especialista no assunto?

É nessa toada que diariamente ele reúne, de forma irresponsável (ver aglomeração), seus adeptos na porta do Palácio da Alvorada para satisfação de seu ego e tentar mostrar para a sociedade que a população está do seu lado, porém só convence seus seguidores, cada vez em menor número. Infelizmente essas pessoas serão contaminadas e poderão vir a óbito por pura vaidade e irresponsabilidade de quem incentiva.

É nesse contexto que no dia 02 de março, durante a exibição costumeira do presidente para seus seguidores que surge um grupo de “pastores” sugerindo que ele convocasse um jejum para toda a nação. Pedido feito, pedido atendido mais tarde em entrevista numa emissora de rádio. A partir desse apelo, muitos “líderes” religiosos, de diversas denominações aliadas politicamente ao mandatário (há muito deixaram Jesus como centro de suas igrejas), começaram a espalhar a ideia. Meu Deus a que ponto chegamos! Um dito “pastor” solicitar que um político que prega violência convoque os cristãos para promover um jejum.

Não demorou muito para que outros “pastores e bispos” aliados politicamente saíssem em defesa do evento proposto, talvez querendo impor suas preferências políticas usando citações descontextualizadas da palavra de Deus para constranger evangélicos a participarem da empreitada. Ocorre que, infelizmente, esse é mais um fato a causar divisão no seio das igrejas, já que, também, muitos se posicionaram contrários a convocação por não encontrar respaldo bíblico para isso. 

A primeira intenção do artigo é lembrar o que Jesus fez no templo: (“E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas; E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”. Mateus 21:12,13), e o que falou dos líderes religiosos da época: (“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia”. Mateus 23:27).

Já a segunda é perguntar aos cristãos, mesmo pecadores, se devemos mesmo seguir esses que se dizem líderes ou seguir somente JESUS? Orar é bom, devemos fazer sempre e nos aproxima de DEUS. É a forma mais fácil que temos para conversarmos com Ele, porém se também quisermos jejuar, devemos fazê-lo conforme o texto introdutório (Mateus: 6:16-18), fora disso é coisa humana e não espiritual.

Só encontramos na Bíblia respaldo para orar pelas autoridades constituídas e devemos fazer, mas até agora não encontrei um versículo, nenhum mesmo, que Jesus cumpriu alguma determinação de algum líder político, salvo respeitar as leis. Se alguém souber, favor avisar.

* Antônio Gonçalves e Jornalista e Economista