Ao ver os comentários recuperados de Caetano Veloso ao documentário brasileiro agora indicado ao Oscar e comparar com outros também ilustres e, ainda outros não tão conhecidos, senti falta de algo que enaltecesse a obra de arte que enxerguei no filme.
Os comentários que li tinham em comum a defesa de uma bandeira ou de algum interesse político. Sim, sem dúvida, o documentário tem por objeto a história política recente sob o prisma preocupado e engajado da autora (Petra Costa) e a indicação do filme dará visibilidade e promoverá a discussão(?) política, mas será que ninguém enxerga que o filme é tão bom que os profissionais que estão à frente da indústria cinematográfica mundial o reconheceram?
Mesmo não sendo especialista na área (vocês sabem que meu negócio é a Economia), impactou-me a poesia com a autora descreve a dureza dos fatos. É o que chamamos na Economia de equilíbrio de fio de navalha. Diferentemente do que geralmente se vê na Economia, surpreendentemente esse equilíbrio percorre o filme. Do início ao fim.
Ao mesmo tempo, a capacidade e coragem da cineasta em deixar-se misturar com a estória/história expondo um divergência familiar da qual ė afetada diretamente, à medida que seus pais lutaram contra um regime sustentado violenta e corruptamente por outra parte de sua família, sem que a narrativa fosse, com isso, distanciada de uma leitura crítica e objetiva da realidade, fez-me entender a capacidade que o ser humano tem de se apropriar da realidade de uma forma poética e pragmática.
Aqui, mais uma vez, o "equilíbrio de fio de navalha" foi alcançado pela autora. Será que a autora é superdotada, tem inteligência superior, ou algum poder sobrenatural que consegue esse equilíbrio a ponto de não haver quem comente com equilíbrio o seu filme? Percebo que estou me tornando um radical.
Começo a desprezar qualquer forma de paixão, que se torne maior do que a paixão pela beleza humana. A capacidade de todas as pessoas de agirem politicamente entendendo que na política estão as pessoas e elas precisam ser respeitadas.