O cristão, suas opções, sua liberdade e sua fidelidade incondicional
Se ser de direita é ser capaz de assumir um compromisso com o desenvolvimento econômico, com uma política econômica saudável e sustentável, com a responsabilidade fiscal e a realização de superávits que possam ser usados para viabilizar investimentos para a construção do futuro do país, com menos desigualdade e mais justiça social, eu simpatizo com este posicionamento.
Mas, se ser de direita implicar em descompromisso com a justiça social e, assim, em gerar condições de proteção ao capital e desproteção ao trabalho e aos trabalhadores; em aumento da riqueza de poucos, em detrimento do crescente número de pobres e dos que mergulham na miséria; em valorização permanente do capital e das coisas por ele viabilizadas, em prejuízo do trabalhador que as produz e no aviltamento da vida que, na forma de trabalho, move o mundo, eu deixo de simpatizar com este posicionamento.
Se ser de esquerda é ser capaz de assumir um compromisso com a justiça, com a redução contínua e crescente da desigualdade social, com o fim de todas as formas de opressão e aviltamento da vida, com a construção de um mundo mais fraterno, mais solidário e menos imerso em conflitos sociais explícitos ou a manifestar-se, eu afirmo simpatizar com este posicionamento.
Mas, se ser de esquerda implicar em descompromisso com o desenvolvimento econômico e a geração de riqueza que possa pagar os custos do desenvolvimento ou da justiça social; em descompromisso com uma política econômica saudável e sustentável; em descompromisso com a responsabilidade fiscal que resulte em déficits orçamentários e fiscais que se vão tornando insustentáveis e geram grandes crises econômicas que abalam as bases do estado e suas condições de serviço ao povo; em descompromisso com a geração de superávits que possam se traduzir em investimento para a construção do futuro do país, com justiça social e redução consequente da desigualdade, eu me recuso a simpatizar com este posicionamento.
E quanto ao ser de centro? Se isso significar uma luta permanente pela busca do equilíbrio, e por uma permanente luta para que os governantes trabalhem voltados para os verdadeiros interesses do povo, e objetivem alcançar desenvolvimento econômico com justiça social e redução consequente das desigualdades, vejo pontos atraentes nesta postura.
Mas, se ser do centro do espectro político e ideológico significar oportunismo, como tantas e repetidas vezes acontece; se for apenas um disfarce para não revelar-se plenamente e estar sempre do lado para onde os muros caem e ser recebido simpaticamente; não ser nada, sendo tudo ao mesmo tempo, e ainda orgulhar-se desta opção de não ser; procurar estar no poder não importando quem o lidere e, como ocorre com o Centrão (muitos evangélicos, vergonhosamente fazem parte dele), espaço onde a falta de ética, a corrupção, as negociatas e a falta de caráter predominam, eu abomino tal postura.
Para mim, ainda, nunca teve, não tem e não terá minha simpatia, e meu consequente engajamento nele, qualquer grupo ou qualquer posicionamento político, ideológico, teológico, religioso, nacional, grupal e outros que abriguem em seu ideário e/ou sua linha de atuação aspectos ou princípios como estes:
- Autoritarismo.
- Radicalismo e intolerância.
- Uso da violência como meio para alcançar os seus fins.
- Culto à personalidade.
- Fanatismo.
- Preconceitos de qualquer natureza.
- Descompromisso com a ética.
- Criação e cultivo de privilégios que, mesmo legai, ferem a ética e estão sempre voltado para os “mais” iguais.
- Obrigação de fidelidade absoluta e incondicional ao seu programa e às suas decisões, mesmo quando distantes de suas linhas programáticas.
Eu me confesso, assim, altamente incapaz de ser idólatra, fanático e acrítico seguidor de qualquer pessoa, grupo, ideologia e partido que abrigue os princípios acima citados, diretamente e/ou por implicação, ou as marcas negativas, pusilânimes e, muitas vezes, burras dos posicionamentos considerados acima. Prefiro ficar e lutar sozinho, se necessário, vivendo o que Paul Tillich caracterizou como “coragem de ser”, no caso, de ser cristão, lembrado sempre das palavras do apóstolo Paulo: “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo de qualquer servidão”.
Conhecendo a verdade que liberta e seguindo um Mestre que respeita a minha autonomia pessoal, prossigo lutando, feliz e confiante, tendo meu único compromisso incondicional com o Senhor, especialmente na forma dos princípios, verdades e valores libertadores, como os que encontro na Bíblia e, mais claramente, nos ensinos e na vida de Jesus, todos conducentes à mais plena liberdade que o ser humano pode viver.
Por isso, declaro: Ao Senhor, e somente a ele, todo o louvor, toda a glória e toda a nossa mais plena dedicação, pois foi para a plena liberdade de todas as opressões que ele, Cristo, nos libertou.
Amém!
Pastor Torres