Histórica e teologicamente, desde o início das narrativas e dos ensinamentos bíblicos, Deus foi entendido e proclamado como libertador dos escravos e oprimidos. É este o tema central do Livro do Êxodo e uma mensagem sempre presente em todo o Velho Testamento, até mesmo no Livro dos Salmos, considerado, como o mais devocional de todos. Nos livros proféticos...
Já o nosso Senhor Jesus Cristo, logo no capítulo 4 do evangelho de Lucas, nos versículos 15 a 21, assim se comporta e fala, apontando que sua vida e ministério necessariamente estariam em sintonia com o caráter de Deus, libertador e contra quaisquer opressões:
"E ensinava Jesus nas sinagogas, e por todos era louvado.
E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.
E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito:
O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração;
A pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos;, a pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor.
E, fechando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele.
Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos." Lucas 4:15-21
A reportagem anexa mostra que a escravidão no Brasil ainda é cultura e realidade, quando traz ao nosso conhecimento a dura e sacrificada história, no altar da opressão e da escravidão, vivida por Madalena Gordiano, de 84 anos, que foi resgatada de condições análogas às de escravo após 72 anos trabalhando e vivendo como empregada doméstica para três gerações de uma mesma família, no Rio de Janeiro. Nesse período, ela cuidou da casa e de seus moradores, todos os dias, sem receber salário, como disse a fiscalização que flagrou e denunciou esta monstruosidade.
O Ministério Público advoga, em sua denúncia, que os integrantes da família que a explorou paguem R$ 3,5 milhões por danos morais e materiais causados a ela, o que resultará em reação contrária de muitas desumanas mentes.
E a igreja? Ela ainda existe no Brasil? Se sim, qual a explicação, se pode existir, para o seu silêncio conivente e sua criminosa omissão diante de outros fatos como este já trazidos ao conhecimento dela, como parte(?) da sociedade brasileira? O que disse a igreja e o que fez até agora? Ou isso não tem nada a ver com fé cristã e vida cristã?
Será que o Deus do Êxodo, o Deus de toda a legislação do Velho Testamento, o Deus dos ensinos e das lutas dos profetas, o Deus de Jesus, da igreja e dos escritores do Novo Testamento mudou e passou a admitir a opressão de uma pessoa sobre outra, opressão econômica, física, sexual, política e racial?
Se assim ocorreu, e não há qualquer fato ou expressão bíblicos que nos levem a admitir isso, esse Deus assim tão irreconhecível e transmudado não é o meu Deus revelado em Cristo, e somente uma coisa posso fazer, em nome da fé cristã: afirmar que este não á o meu Deus, mas um deusinho qualquer, inventado pelos homens e tornado meramente se ídolo.
O Deus bíblico que reconheço e a quem dou o senhorio sobre minha vida é o Deus libertador do Êxodo; o Deus que inspirou a legislação social do VT para proteger os pobres, mitigar as desigualdades e libertar os oprimidos; o Deus dos profetas e sua luta pela justiça e por uma sociedade mais igual e solidária.
O Deus, enfim e sobremaneira, que inspirou o programa do ministério e da vida de Jesus neste mundo, nitidamente de caráter libertador e salvador, como fica explicitado no texto do evangelho de Lucas, acima citado.
Por isso proclamo, em alto e bom som, como numa convocação a todos os cristãos e a todas as pessoas sensibilizadas por esta mensagem, cem por cento em harmonia com o ensino de toda a Bíblia: PELA LIBERTAÇÃO DE TODOS OS ESCRAVOS! SEMPRE!
Pastor Torres
https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2022/05/13/mulher-e-resgatada-apos-72-anos-de-trabalho-escravo-domestico-no-rio.htm