Adão e Eva estão situados na narrativa bíblica como os primeiros pais. A partir de sua semente toda a espécie humana foi gerada, e deles também partem as práticas de culto e adoração.
Eles são descritos como tendo sido colocados por Deus no paraíso – um jardim de delícias conforme uma tradução literal do termo hebraico (veja em Gn 2:8) – e por isso sempre representarão um modelo de vida e experiência diretamente ligadas ao Criador.
Por isso quero olhar mais acuradamente o que indicam as palavras bíblicas.
No primeiro capítulo do livro de Gêneses está narrado de forma poética como Deus criou todas as coisas. Chegando ao segundo capítulo lemos com um pouco mais de detalhes como o homem e sua mulher foram formados e constituídos como unidade familiar.
A intenção do autor bíblico é ensinar qual era o projeto original de Deus para a humanidade e deixar bem claro o que perdemos quando nos afastamos dele.
No texto, nada, porém, é dito de forma explícita sobre o dia-a-dia deste casal e o que faziam lá no jardim. E, sendo sem pecado, como interagiam com o Deus Criador.
A falta de detalhes na descrição do texto bíblico pode apontar para a compreensão que os passos do Senhor ouvidos naquele dia era algo bastante comum àquele casal.
Parece que havia um hábito naqueles encontros.
A expressão original hebraica não é clara em dizer como se deu esta percepção do sagrado. A verdade expressa é que, sem dúvida alguma, Adão e Eva sabiam que aquilo que eles ouviam era a aproximação da presença divina em suas vidas.
Também não fica demonstrado se o que serviu de referência ao casal foi o local e o momento do encontro – o soprar da brisa pode indicar tanto o lugar como a situação em que o som de Deus podia ser percebido.
Ou seja, somando-se as três percepções, posso entender que desde os primórdios o ser humano foi tocado pela manifestação sagrada de Deus tanto pela voz divina, como pelo lugar, como pelo momento de adoração.
Aqui não há liturgias, não há sacerdotes, não há também sacrifícios ou ordenamento de culto. Não há citação de cânticos ou de homilias e preces.
O que fica bem demonstrado na narração do Gêneses é que no princípio o Criador e suas criaturas se encontravam com regularidade, e isto era suficiente!